Matéria: Conhecendo um pouco a história do Tokusatsu - Parte 1
E é com muito prazer que anunciamos o início das atividades no Blog Visão Tokusatsu. Na nossa primeira matéria vamos fazer uma pequena viagem no mundo Tokusatsu desde o seu nascimento até os dias de hoje. O que significa? Como surgiu? O que forma um Tokusatsu? Vamos saber agora!
O SIGNIFICADO DA PALAVRA
A palavra Tokusatsu é na verdade uma abreviação para a expressão ''Tokushu kouka Satsuei'' que traduzindo de forma simples significa ''Filmes com efeitos especiais''. Este termo é utilizado para designar qualquer produção que envolva efeitos especiais, visuais e outras características. No Japão portanto, praticamente qualquer produção que utilize de efeitos especiais é chamado Tokusatsu. Porém o Tokusatsu tem suas próprias vertentes e características únicas que ajudaram a formar e moldar esse tipo de produção. Hoje em dia, normalmente usamos este termo para nomear produções que envolvam heróis, monstros e ficção cientifica em geral, e qualquer produção que utilize destes elementos podem ser considerados como Tokusatsu independente do seu país de origem. Hoje em dia muitos países além do Japão produzem os seus próprios Tokusatsu, inclusive nós Brasileiros.
COMO TUDO COMEÇOU...
Para começarmos essa história vamos voltar lá no início dos anos 50, época em que o Japão ainda se recuperava dos efeitos causados pela guerra e aos poucos ia se reerguendo tanto de forma econômica como também de forma cultural. O medo e o pavor pós bomba atômica que havia atingido Hiroshima e Nagasaki ainda estava estampado nos rostos dos japoneses. O Japão se via ''ameaçado'', pois era nítida a invasão cultural americana dentro do país. Aos poucos foram surgindo os primeiros Animês e assim também as suas próprias produções de sucesso para o cinema, ainda que de forma bem tímida. Os valores heroicos dentro de séries e filmes ainda vinham dos famosos filmes samurai, muita coisa vinda do renomado Akira Kurosawa e sendo Shichinin no Samurai (Os sete Samurais) uma das suas obras mais famosas dentro da sua extensa carreira.
Foi então que em 1954 uma das maiores produtoras de filmes, a Toho Company (inaugurada em 1932) que já não estava tão bem de forma financeira, arriscaria em uma produção que mudaria para sempre o cinema japonês e porque não dizer mundial. Os envolvidos nessa produção foram Tomoyuki Tanaka como produtor, Ishiro Honda como diretor e o mestre de efeitos especiais Eiji Tsuburaya que ficou encarregado á dar vida ao filme. Inspirados pelo sucesso King Kong (1933) de Wills O'brien que mostrava um gorila gigante solto em Nova York e o filme ''The Beast From 20,000 fathoms'' ou apenas o ''Monstro do Mar'' lançado no ano anterior, a equipe de Tsuburaya buscava algo semelhante, porém com o jeito japonês de se fazer cinema. A ideia foi criar um monstro gigante com mais ou menos 50 metros de altura baseado em um dinossauro pré histórico e com o poder de soltar um poderoso raio atômico. O filme faria uma critica ao uso de armas nucleares e o monstro representaria o medo e o terror da bomba atômica, assim nascia o ''Gojira'' que mais tarde ficaria conhecido mundialmente como Godzilla. O longa fez a sua estréia triunfal no dia 03 de novembro de 1954.
Eiji Tsuburaya, o criador do rei dos monstros |
A produção é até hoje considerada uma das mais caras da história do cinema nipônico. Tsuburaya era amante e um grande profissional do modelismo. Ao contrário das produções o qual ele havia se inspirado que utilizava de stop motion para a criação de seus efeitos especiais, Eiji inovou optando pelo suit motion, ou seja, ao invés de utilizar imagens e bonecos em movimento, ele usaria de uma roupa toda produzida em látex e com uma pessoa fazendo os seus movimentos. Para isso ele contou com Haruo Nakajima que se tornaria o suit actor (ator que utiliza as roupas) principal do Godzilla durante anos criando os seus memoráveis movimentos. Tsuburaya também trouxe mais uma inovação que eram as maquetes produzidas com muito cuidado para ficarem idênticas as cidades que Godzilla passaria passando assim muito mais realismo, fazendo inclusive algumas pessoas se questionarem como tudo aquilo era feito. Tsuburaya é descrito como ''perfeccionista'' e nunca terminava algo enquanto não estivesse 100% ao seu gosto. O resultado foi um dos maiores sucessos do cinema até hoje, levando o cinema japonês para um novo patamar. O filme contou com um clima tenso e bastante assustador para a época e o monstro ficou marcado até hoje como ''a personificação do medo'' que era vivida pelos japoneses naquela época. O Godzilla se tornou um ícone e um simbolo cultural do Japão sendo reconhecido como cidadão devido a sua importância e contribuição para o crescimento cultural do país.
Godzilla então se tornaria a primeira grande franquia do tokusatsu, formando assim as primeiras produções deste gênero. Os Kaiju Eiga (filmes de monstros) se tornariam cada vez mais populares e outros kaijus viriam a ser criados e produzidos pela Toho, entre eles: Rodan (1956), Varan (1958), Mothra (1961) entre outros monstros. Em contra partida, outras produtoras também começaram a produzir os seus filmes baseados em super heróis. Entre 1957 até 1959 a Shintoho Company, uma empresa fundada por ex funcionários da Toho produziram uma série de filmes de um herói conhecido como Super Giant, no entanto ele ainda tinha muita influência em super heróis americanos como Superman tendo um visual bastante tradicional com uso de capa e botas. Ao mesmo tempo a Toei Company também mexia os seus pauzinhos e ia formando as suas primeiras produções do gênero. Foi então que em 2 de julho de 1958 surgiria o primeiro super herói japonês a protagonizar uma série televisiva, o Gekkou Kamen (Máscara Lunar) criado por Kohan Kawauchi que buscou inspirações em personagens populares como Batman e Zorro.
Gekkou Kamen, a primeira série de Tokusatsu |
A série do Gekkou Kamen rendeu uma serie com incríveis 131 episódios e mais 6 longa metragens para o cinema, sendo até hoje considerado uma das maiores audiências do estúdio. Em 1959 outro herói foi criado pela Toei, o Nanairo Kamen (7-Color Mask) também criado por Kawauchi. O herói ganhou uma série de 31 episódios que foi exibida até 1960 onde seria substituída por um outro herói, este já muito conhecido aqui na Brasil, já que foi um dos primeiros do gênero a estrear em nosso país, o National Kid (Nashonaru Kiddo). O herói foi criado como garoto propaganda para os produtos de eletrodomésticos da empresa National Eletronics, que anos mais tarde ficaria conhecida mundialmente como Panasonic. National Kid foi um dos heróis com essa aparência que lembrava os heróis americanos mas que já apresentavam elementos que seriam utilizados até hoje dentro das séries Tokusatsu á exemplo de temáticas com invasões alienígenas entre outros exemplos.
National Kid, o garoto propaganda da Panasonic |
ULTRAMAN: A PRIMEIRA FRANQUIA DE SUPER HERÓIS DO JAPÃO
O Ultraman foi e ainda hoje é uma das franquias de Tokusatsu mais importantes pois serviria de inspiração para muitas outras produções que ainda estariam por vir. Por muito pouco não foi a primeira série de Tokusatsu a ser exibida em cores na TV já que a série Magma Taishi (Vingadores do Espaço) da concorrente P-Productions estreou alguns dias antes de Ultraman. Ultraman mostrava um alienígena proveniente da nebulosa M-78 que vinha para a terra com a missão de proteger os humanos de ameças de alienígenas e monstros adormecidos durante milhões de ano que começaram a despertar na terra. Para isso ele se une ao humano Shin Hayata membro da Patrulha Cientifica para assim poder atuar na terra e cumprir a sua missão. Essa temática foi utilizada durante anos. Porém Eiji Tsuburaya não tinha intensão de criar uma franquia e no ano seguinte trabalharia na sua segunda e última produção do gênero, o Ultraseven. Essa não tendo nenhuma ligação com o Ultraman e abordando ainda mais a ficção cientifica.
Eiji Tsuburaya nos bastidores de Ultraseven (1967) |
Dois anos se passaram e nada se ouvia falar em Ultraman. Foi então que em 25 janeiro de 1970 ocorreria a morte de Eiji Tsuburaya encerrando assim o seu legado e passando a administração de sua empresa nas mãos de seus filhos Hajime e Noburo Tsuburaya. Já no ano seguinte eles decidiram continuar a ideia de seu pai lançando a série Kaetekitta Ultraman (O regresso de Ultraman) e a ideia era mesmo mostrar o retorno de Ultraman á terra depois de anos, no entanto a produção acabou tomando novos rumos e se tornou uma série totalmente nova com novos personagens e novas histórias. Essa série possibilitou o primeiro encontro entre os heróis fazendo um crossover entre Ultraman, Seven e o Ultraman regressado (que até então não tinha um nome próprio, somente em 1984 ele batizado de Ultraman Jack). Assim se formou a franquia Ultraman que dura até os dias atuais. Hoje a franquia possuí quase 30 séries para TV e mais uma coleção extensa de filmes, animações, especiais e spin offs.
O SUCESSO DOS HERÓIS GIGANTES
Entramos agora nos anos 70, uma era de ouro e que com certeza apesar dos altos e baixos foi a década de maior sucesso e relevância para o Tokusatsu. Com o sucesso das séries Ultra surgia o que podemos chamar de ''Kaiju Boom'', ou seja séries com heróis e monstros gigantes que alcaçaria grande sucesso e popularidade. Muitas produtoras passaram a criar seus heróis gigantes, a Tsuburaya além dos Ultras lançava na TV heróis como Mirrorman (1971), Fireman (1973) e Jumborg Ace (1973/1974) as duas últimas comemoram os 10 anos da produtora. A P-Productions por sua vez, depois de Magma Taishi passaria a trabalhar com o herói ecológico Spectreman (1971), este por sua vez competiu em audiência com O regresso de Ultraman. A Nippon Gendai e a Sekonsha também criaram os seus heróis sendo Silver Kamen (1971), Iron King (1972) e Super Robot Red Baron (1973) bons exemplos de sucesso dessas produtoras.
A Toei, sendo influenciada pelas obras do mestre Mitsureu Yokoyama, lançou ainda muito antes dos anos 70 o Robô Gigante (1967). Entre 1972 até o final dos anos 70 a Toho também lançou os seus heróis gigantes com as séries Ike! Godman e Greenman (1972/1973), passando por Ryusei Ningen Zone (1973) este com participação de Godzilla e Megaloman lançado em 1979. Essas séries não formaram uma franquia por não seguir um padrão mas passaram a ser conhecidas como o gênero Kyodai Hero (herói gigante).
KAMEN RIDER, SUPER SENTAI E OUTROS: A MODERNIZAÇÃO DO TOKUSATSU
Shotaro Ishinomori e Toru Hiraiyama, os criadores do Tokusatsu moderno |
Apesar do sucesso dos heróis gigantes, não demorou muito para que diminuísse o impacto do Kaiju boom e houvesse um certo cansaço pelo público e era nítida as quedas de audiência nas últimas séries dos heróis dessa linhagem. Foi então que ainda em 1971, Shotaro Ishinomori um dos maiores mangakas do Japão e discípulo do pai do Mangá Osamu Tezuka passaria a contribuir para o sucesso do Tokusatsu ajudando a modernizar o conceito das séries tanto em visuais como em enredos. A ideia inicial de Ishinomori era um herói de nome Skull Man o qual ele havia lançado um mangá em 1970. O herói tinha um visual obscuro e sombrio e quando veio a ideia de levá-lo para as telas, a Toei reprovou o projeto inicial de Ishinomori uma vez que o público alvo dessas séries eram as crianças. O produtor Toru Hirayama então se uniu a Ishinomori e os dois trabalharam juntos para adaptar o herói para as telas e depois de algumas mudanças nasceu o Kamen Rider. Kamen Rider era a união entre um humano e um gafanhoto depois do jovem Takeshi Hongo passar por um processo de remodelagem se tornando um Humano remodelado (kaizou ningen).
A primeira série Kamen Rider foi um grande sucesso de audiência |
A série do primeiro Kamen rider estreou em abril de 1971 com incríveis 98 episódios e agradou em cheio as crianças da época por mostrar um herói e monstros em tamanho humano. A premissa utilizada em Kamen Rider serviu para criar uma franquia que também pendura até os dias de hoje, sendo considerada uma das mais lucrativas atualmente. Kamen Rider conta com 30 produções para TV e mais uma série de filmes para o cinema. A dupla Ishinomori e Hirayama também trabalhariam para muitas outras produções fora da franquia Kamen Rider criando fenômenos como Kikaider (1972) e sua sequência Kikaider 01 (1973), Robot Keiji K (1973), Inazuman (1974), Akumaizer 3 (1975), Ninja Captor (1976), Daitetsujin 17 (1977) e mais uma enxurrada de séries que pegaram carona no sucesso de Kamen Rider e que abriram uma nova categoria conhecida como Henshin Heroes, em uma tradução livre ''heróis que se transformam''. Em 1975 ainda trabalhando ao lado de Hirayama, Ishinomori lançaria mais um grande sucesso, desta vez com uma equipe de heróis coloridos, a série Himitsu Sentai Gorenger. O autor buscou inspiração em um anime de bastante sucesso na época, Gatchaman da Tatsunoko Productions que mostrava uma equipe de 5 heróis com diferentes cores. Na série, foram 5 heróis com nomes baseados em suas cores o qual o vermelho era o líder. A produção foi um grande sucesso ofuscando inclusive o sucesso da franquia que Kamen Rider fazia desde o início dos anos 70 fazendo o seu primeiro hiato que só retornaria em 1979 com Skyrider. Gorenger contou com longos 84 episódios. A série formaria o que até então era apenas um gênero conhecido como Sentai (Esquadrão), até que em 1979 os planos da produtora mudariam.
Gorenger, o primeiro Super Sentai |
''Supaidaman'', o homem aranha japonês que trouxe inovações para o Tokusatsu |
Espero que tenham gostado desta primeira parte desta matéria. Em breve estaremos trazendo aqui a segunda e última parte! Continuem nos acompanhando.
Por: Venâncio Souza
Essa matéria ficou espetacular, ainda mais por falar um pouco sobre a origem do tokusatsu tratando os clássicos com o devido respeito. Parabéns ao pessoal do blog, que vocês continuem a crescer falando dignamente das séries que tanto amamos sempre com bom ânimo. Boa sorte nessa nova empreitada.
ResponderExcluirMuito obrigado amigo Wanderson! Comentários como o seu nos motivam e nos fortalecem para buscarmos sempre melhorar a cada dia e compartilhar de maneira clara e objetiva essa paixão chamada Tokusatsu!
ExcluirEssa matéria ficou espetacular, ainda mais por falar um pouco sobre a origem do tokusatsu tratando os clássicos com o devido respeito. Parabéns ao pessoal do blog, que vocês continuem a crescer falando dignamente das séries que tanto amamos sempre com bom ânimo. Boa sorte nessa nova empreitada.
ResponderExcluir