A franquia Kamen Rider nos anos 80!

A franquia Kamen Rider, criação do mangaká Shotaro Ishinomori, iniciou-se em 1971 e seguiu-se ininterruptamente até 1975, quando teve um pequeno hiato, retornando apenas em 1979 com Skyrider e adentrou os anos 80 - a segunda década da franquia - com 4 produções: Super-1, ZX, Black e Black RX, as quais irei abordar nesse texto.

O filme de Sky:

A série Skyrider, que marcou o retorno da franquia Rider (parada desde 1976, com o fim de Stronger), estreou em Outubro de 1979 e foi exibida até Outubro de 1980, como uma tentativa de reboot da franquia mas que acabou por ser adicionado na mitologia linear dos Riders. A série ganhou um filme que foi lançado em Março de 1980. 8 Riders Vs. Ginga-Oh, foi a primeira produção cinematográfica original desde 5 Riders vs. King Dark de 1974 (já que os filmes de Amazon e Stronger eram apenas versões estendidas dos episódios da TV). "8 Riders" foi produzido como algo de alto nível, se comparado com as versões de cinema das séries anteriores. Possuiu 40 minutos de duração, teve o dobro do orçamento normalmente utilizado nesse tipo de produção e com uso de efeitos especiais experimentais em larga escala (como a tomada espacial inicial). 

Na história, uma equipe de cientistas realizam o teste de uma super arma em um planeta deserto. O vilão alienígena Ginga-Oh percebe isso e decide atacar a estação espacial, matando toda equipe. No entanto, o chefe da equipe consegue passar os dados da arma para o cérebro de um cão e o envia para a terra. Após o acontecido, na terra, os filhos e a assistente do tal cientista passam a ser perseguidos pela Neo-Shocker (que agora, formou uma aliança diabólica com o alienígena). Hiroshi Tsukuba então entra em cena para desvendar o que Almirante Majin e o ser do espaço estão tramando no monte Fuji. Na luta final, ele conta com a ajuda dos sete Riders lendários para lutar contra uma horda de monstros ressuscitados da Neo-Shocker.    

Esse filme apresenta pela primeira vez a nova forma do herói, chamada de "Powered Skyrider", antes de sua estreia no episódio 28 da série de TV.  Foi dirigido pelo próprio Shotaro Ishinomori, que além de uma ponta como ator, também supervisionou a criação dos efeitos especiais. Indo na onda de "Uchuu Kara no Messeji: Ginga Taisen" (outra produção de Ishinomori) que bebeu na fonte da popularidade de Star Wars, possuí tomadas espaciais bem legais, utilizando o sistema "Toutsu ECG System" que permitia fazer montagens em efeitos especiais em larga-escala de uma maneira menos problemática. Tal conceito espacial, certamente, influenciou na criação da série seguinte...

 

O Rider do punho Shaolin:

Kamen Rider Super-1 estreou em 17 de Outubro de 1980 e foi ao ar até 3 de Outubro de 1981 pela emissora Mainichi Broadcasting System, sucedendo Skyrider. Nela, temos a história de Kazuya Oki, que se oferece como cobaia para um experimento da NASA que visava adequar o corpo humano para que pudesse viajar para o espaço, a fim de encontrar um futuro possível lar para a humanidade e enfrentar todas as intempéries espaciais. Então Kazuya é transformado no Super Cyborg 1, que tem à sua disposição as Five Hands, que são luvas com variados poderes e habilidades. No entanto, o império Dogma, formado alienígenas vindos da nebulosa B-26, invadem a terra visando criar uma Utopia, onde a raça superior domine, inicialmente, tentam roubar a "invenção", posteriormente, passam a querer assassinar Kazuya. Nesse momento, o herói se vê obrigado a treinar para combater a ameaça e se tornar Kamen Rider Super-1. 

A ideia desse Rider, nasceu ainda em Skyrider, que devido a sua classificação de audiência insatisfatória, teve várias ideias de mudanças e melhorias consideradas. Uma deles seria a aparição de um novo herói, tal personagem seria utilizado como um Rider secundário na série. A ideia era que ele surgisse após um experimento da Neo-Shocker com os astronautas da Agência Aeroespacial Americana. No entanto, acabaram por descartar o conceito. Depois disso, a ideia foi reorganizada e se tornou um novo projeto de programa, Kamen Rider Super-1. Reaproveitando a ideia espacial e adicionando um sub-elemento de artes marciais. 

Nesse trabalho, a intenção era dar mais foco nas cenas de luta que em seu antecessor, utilizando mais de coreografias baseadas em artes-marciais praticas do que efeitos especiais em si, como forma de aplicar melhor o conceito de "Sekishin Shorin Ken" (Punho Shaolin Sincero) utilizado na série.

A primeira metade da série teve audiência superior a de SkyRider, no entanto, acabou sofrendo uma alteração de horário que a prejudicou, e por conta disso, algumas localidades não exibiam Super-1 por terem seus telejornais locais no mesmo horário. É interessante, que essa série apresenta alguns fatores incomuns para as produções Kamen Rider desse período, como a ideia do Rider que não foi originalmente criado por um império maligno para ser usado como arma, mas sim, pela NASA dos Estados Unidos, para desbravar o espaço. Kazuya Oki parece não ter nenhum problema existencial quanto a perda de sua humanidade por ter se tornado um ciborgue. Inicialmente, ele dependia de um computador para se transformar, passa por um treinamento e tem dificuldades inicias em aprender sua pose de Henshin e poder se transformar devidamente. 

Embora a primeira metade da série tenha saído-se melhor em desempenho, sua mudança de horário e sua a mudança de direcionamento, como a troca do império de vilões, a queda de Terror Macro e o surgimento da trupe do Akuma Gensui, fez com que seu desempenho caísse. Importante ressaltar também que, embora inicialmente utilizado, o conceito especial foi deixado de lado a medida que trabalhou-se mais a ideia das artes marciais. Sendo brevemente reutilizado no fim da série. 

O Filme de Super-1: 

Embora Super-1 tenha como mentor Genjiro Tani, o mesmo de Skyrider, essa foi a única ligação aparente dentro do enredo entre as duas produções. O encontro entre Super-1 e os oito Riders anteriores se deu apenas através de um filme de Março de 1981 e consta como a primeira aparição dos veteranos após, terem (aparentemente) se sacrificado no fim da série anterior.

No filme, Dogma ataca a aldeia Matagi de Yamabiko para roubar a sagrada Fortaleza do Dragão e causar estragos em todo o Japão. Seis crianças da vila se refugiam em uma cidade próxima, mantendo suas identidades como cidadãos Matagi em segredo. O Rider Super-1 deve proteger essas crianças do Reino Dogma, pois elas guardam o segredo da fraqueza da Fortaleza do Dragão.

Este filme foi lançado entre os episódios 21 e 22 da série de TV.  No entanto, no final do episódio 21, o General Megarl diz que apostaria tudo o que tinha para derrotar o Super-1 da próxima vez, praticamente descrevendo o episódio 22. E o General Megarl foi repreendido por ter falhando na estratégia de roubar as Five Hands (episódio 21) no começo do episódio 22, o que significa que o episódio 22 veio logo depois de 21. Portanto, o ajuste mais próximo para o filme seria logo após o episódio 20. 

O nascimento do décimo!

Após o término de Kamen Rider Super-1 em Outubro de 1981, devido a um descontentamento geral pelos resultados de vendas e audiência, os executivos da Toei exigiram mudanças substanciais nos moldes das séries Kamen Rider, fazendo  com que a franquia Rider entrasse em um breve hiato. 

Em 1982, o décimo Rider, chamado de Kamen Rider ZX estreou em uma serialização em mangá, ganhando também um áudio drama.  No entanto, a Toei não teve interesse em realizar uma série do personagem, já que Uchuu Keiji Gavan estava alcançando bons níveis de audiência e de retorno com o público e segundo os produtores, não haveria espaço para uma série Rider em sua grade. Então, a estréia de ZX em live action, foi dar-se apenas em 1984,  época em que Shaider era a série da vez, em um curto especial de TV (Jūgō Tanjō! Kamen Raidā Zen'in Shūgō!!), onde além de recapitular brevemente os nove anteriores, conta a curta história de Ryo Murasame como Kamen Rider. 

No enredo, o avião de Ryo e sua irmã foi abatido  enquanto sobrevoava o Brasil, por uma organização terrorista conhecida como Império Badan e os dois foram capturados. Mais tarde, Badan mata sua irmã e transforma Murasame em um guerreiro ciborgue chamado ZX e faz uma lavagem cerebral nele; mas um acidente permite-o recuperar a memória. Murasame decidiu lutar para vingar sua irmã. Seu primeiro encontro com os Kamen Riders do passado é quando ele confunde Kamen Rider Super-1 e Riderman com soldados de Badan. Mas o Rider V3 o explica que eles são todos inimigos de Badan. Junto com Riderman e Super-1, eles explicam para ZX, a história e o significado de todos os Riders, e, finalmente, ele decide se juntar a eles, como o 10º Rider. 

Long Long Ago 20th Century...

Em 1986, começou-se a desenvolver o projeto do que viria a ser Kamen Rider BLACK, que seria um reboot, um novo início do zero para a franquia que estava parada desde o especial de 1984. A maioria da equipe contratada, propositalmente, não havia se envolvido em nenhuma produção Rider anteriormente, para que justamente a nova série (que até então tinha o código de trabalho Kamen Rider #0) fosse uma ideia totalmente autoral. Para o reboot, Ishinomori queria uma história mais tenebrosa e sombria, no entanto, a Toei (juntamente com sua parceira Bandai), achou que isso não seria comercialmente atrativo para as crianças, então a ideia acabou sendo remodelada. 

Kamen Rider BLACK estreou pela emissora Mainichi em 4 de Outubro de 1987 e correu até 9 de Outubro de 1988. E narra a história de Kotaro Minami, que foi sequestrado pelo culto das trevas Gorgom, juntamente com seu irmão de criação Nobuhiko Akizuki e remodelado em um guerreiro mutante. Minami consegue escapar e se torna um Kamen Rider que luta pela justiça, porém, Nobuhiko é convertido no maligno Shadow Moon . Um destino cruel ronda os dois: ter que lutar entre si. Minami vive a dura trama de ter que combater a conspiração dos Gorgom e tentar salvar Nobuhiko. 

A série, propositalmente, não possuí muitos elementos da fórmula padrão dos Riders dos anos 70 e também apresenta uma nova ótica sobre o que a franquia vinha apresentando até então, como a ideia de um antagonista equivalente, a não participação dos Riders veteranos para ajudar o herói da vez (que era quase um ritual sagrado nas séries Showa), a não presença de um mentor (como Tobei Tachibana ou Genjiro Tani), a caracterização dos Gorgom em si que estavam mais para uma seita macabra do que para um império do mal ou uma organização maligna nos "moldes Shocker".  Porém, mesmo com esse distanciamento de fórmula podemos perceber uma série de referências ao Kamen Rider original de 1971: Como a personalidade de Kotaro Minami que era mistura das personalidades dos dois primeiros Riders: Em momentos era sério e melancólico como Takeshi Hongo (Ichigo), mas em outros era despojado e passional como Hayato Ichimonji (Nigo), o início soturno que lembra um filme de terror, o personagem  Ryusuke Taki - uma clara referência ao Taki Kazuya, dentre outros. 

A série foi exibida no Brasil (com o título de Black Kamen Rider) em duas ocasiões: De 1991 até 1994 pela extinta Rede Manchete, onde logrou grande popularidade. Posteriormente, no dia 30 de Agosto de 2020, teve seus dois primeiros episódios exibidos pela Rede Bandeirantes no bloco Mundo Animado, que exibia outras produções Tokusatsu. A exibição foi interrompida devido a um imbróglio envolvendo direitos conexos de dublagem entre a empresa que detém os direitos de licenciamento da série e um dos dubladores. 

Atualização: Em 08 de Outubro de 2020, Kamen Rider Black (com o título de Black Kamen Rider), foi adicionada ao catálogo da Amazon Prime Brasil, com áudio original em Japonês e legendas em Português, juntamente com outra série da franquia: Kamen Rider Zi-O (de 2018). 

Atualização 2: Kamen Rider Black foi removido da plataforma Amazon Prime Video, mas em Abril de 2021 foi disponibilizado na plataforma gratuita Pluto TV com legendas. 

Os "filmes" de Black:

A maioria dos Tokusatsu sempre receberam e ainda recebem filmes e especiais além das séries. Nos anos 80 era comum que esse tipo de especial fosse lançado no Toei Manga Matsuri, no formato de curta-metragem, tendo a duração média de um episódio normal de televisão (ou um pouco maior, dependendo do caso), e Kamen Rider Black recebeu dois desses especiais:

 

O primeiro em Março de 1988, intitulado de Onigashima e Kyūkō seyo que se passa entre os episódios 22 e 23 da série de TV. Nesse, Kotaro Minami segue para uma ilha misteriosa para investigar o desparecimento de crianças. Essa produção foi roteirizada pelo lendário Shozo Uehara (que também roteirizou o icônico primeiro episódio da série) e tem a aparição do próprio Shotaro Ishinomori (criador de Kamen Rider) interpretando um pescador que ajuda Minami a chegar na ilha.  O segundo, Kyōfu! Akumatōge no Kaijinkan, foi lançado em Junho de 1988 e passa-se entre os episódios 38 e 39 da série de TV (embora, anúncios para o filme tenham aparecido nos episódios 37 e 38). Nele, o Rider Black deve salvar a cidade de Yubari da influência maligna de Shadow Moon. Esse foi roteirizado por Kyoko Sagiyama (que já havia trabalhado anteriormente nos supramencionados Skyrider e Kamen Rider Super-1). 

Wake Up! The Hero! 

Apesar dos bons índices de audiência, comercialmente, a série anterior não vendeu bem (lê-se não vendeu itens o suficiente) - vide a criação de uma segunda moto, a Road Sector, só pra ter algo mais para vender - desagradando a Toei e a Bandai. Então, decidiu-se que a série seguinte, chamada de Black RX, deveria cobrir o "prejuízo". O projeto apresentado foi de uma sequência da série anterior, reaproveitando o ator Tetsuo Kurata (que adquiriu popularidade na época), no entanto, com direcionamento mais cômico, mais amigável para as crianças, e com a adição de armas, veículo, formas adicionais, para que tivesse uma grande variedade de itens para venda. Shotaro Ishinomori discordou de alguns dos novos rumos pretendidos, colaborando apenas com alguns designs. 

Kamen Rider Black RX estreou em 23 de Outubro de 1988 e foi até 24 de Setembro de 1989, também pela Mainichi Broadcasting System. Após os eventos da série anterior, Kotaro Minami agora trabalha como piloto de helicóptero e vive feliz com a família Sahara e sua namorada Reiko. No entanto, sua paz duraria pouco, pois surge o Império Crisis, visando colonizar o planeta terra. Com isso, Minami ao se recusar anuir-se ao Crisis, é atirado no espaço, onde a radiação solar altera o King Stone, dando-lhe novos poderes e novas habilidades para lutar. 

Ocasionalmente, esta produção adicionou novos elementos para revitalizar as vendas. Como parte disso, além de adotar ataques com espadas e pistolas como a principal técnica especial (ao invés dos Riders Kicks e Punchs) pela primeira vez na série Kamen Rider, também foram adotados um carro, além da moto, e elementos que o diferenciam dos Kamen Riders anteriores, como mudanças de formas (embora já houvesse um vislumbre disso em séries anteriores) que foram acrescentadas em definitivo nas séries posteriores. 

Também foi feito um resgate de alguns elementos antigos da década de 70 que haviam sidos deixados para trás durante Black, como um caricato império do mal propriamente dito (os Gorgom, da série anterior, estavam mais para um "culto" ou "seita" que para um império em si - quem leu o mangá sabe que a intenção original era essa) com soldados rasos, patentes e planos mirabolantes, a figura de um companheiro (sempre enxerguei Joe Kazumi como uma referência ao Riderman), a figura da namorada (novamente, sempre enxerguei Reiko Shiratori como uma referência sutil a Ruriko Midorikawa) e acrescendo-o na linearidade da franquia com a aparição dos 10 Kamen Riders veteranos para ajudar (um pretesto para a bandai relançar a linha de colecionáveis no mercado). RX teve um bom desempenho comercial no Japão, mostrando que o público se sentiu satisfeito com as novas adições.

No Brasil, a série foi exibida pela Rede Manchete em 1995.

O team-up de Black, RX, Biorider e Roborider? 

O especial Kamen Rider Sekai ni Kakeru foi lançado em Abril de 1989, dirigido por Yoshiaki Kobayashi (que dirigiu os primeiros episódios da série) e roteirizado por Yoshio Yurasawa, esse especial estreou primeiramente num festival em Yubari. Sua história envolve um inusitado encontro entre os alter-egos de Minami: RX, suas formas Roborider e Biorider, e sua versão anterior Black. No filme, o Império da Crisis decide derrotar Kotaro, revertendo-o à sua antiga forma de Kamen Rider Black e enviando vários monstros revividos atrás dele, numa realidade paralela, onde ele também encontra os antigos Sacerdotes de Gorgom. No entanto, Kamen Rider Black é auxiliado por RX, por Roborider e Biorider. Foi lançado entre os episódios 25 e 26 da série de TV.

E assim se encerram as produções da franquia nos anos 80. Embora menos prolífica que a década de 70, esse período nos rendeu séries clássicas e importantes para a fundamentação e a continuidade da mitologia dessa rica e longeva franquia que se iniciou nos anos 70 e permanece ativa até os dias atuais. Em breve, trarei especiais sobre as demais décadas de Kamen Rider! 

Keep Rider Kickin' ! 

Por: Thiago AP