A franquia Kamen Rider nos anos 90!

A década de 90 não foi tão prolífica para a franquia dos "motoqueiros mascarados" de Shotaro Ishinomori e passou longe de tão produtiva quanto os anos 70 e os anos 80 (leia mais aqui), recebendo apenas filmes e especiais e não ganhando nenhuma série. Porém, certamente, esta década rendeu algumas produções interessantes, as quais irei abordar aqui! 

O "verdadeiro" Kamen Rider: 


O projeto de Shin Kamen Rider, iniciou-se ainda em 1989, logo após o fim de Black RX, com a intenção de que Shotaro Ishinomori (criador da franquia) pudesse realizar o Kamen Rider que sempre quis. Uma produção que não estivesse presa aos parâmetros e as rédeas televisas e de vendagem. Originalmente programado como a comemoração de 20 anos da franquia, que se deu em 1991, o trabalho foi postergado para 1992, pois segundo a Bandai, em '91 já haveria as comemorações de 25 anos da franquia Ultraman, então, eles acharam que não seria de bom tom uma "duplicidade" de aniversários no mesmo ano já que a Bandai produzia merchandising para ambas as franquias. 



Um rascunho de roteiro inicial foi escrito por Jo Onodera e seu pai, Shotaro Ishinomori, que também preparou "Masked Rider Gaia" baseado na "teoria de Gaia" separadamente (que posteriormente, tornou-se uma Novel de Masato Hayase). Com base no conceito imaginado por Jo Onodera, Keiichi Miyashita complementou o roteiro. Sobre o nome "Shin", grafado como uma tradução para "verdadeiro", Ishinomori explicou que Kamen Rider (a série original de 1971) foi uma árvore que floresceu e deu frutos, no entanto, esse filme era como uma raiz para essa árvore. Logo, Shin Kamen Rider é traduzido como "Verdadeiro Kamen Rider", uma referência por ser o mais próximo da ideia original para a franquia, deixando de lado a conceituação de herói mascarado, com seus chutes e socos, cintos de transformação e motocicletas em prol de algo mais sombrio. A proposta de Shin apresentou um cenário violento, realista e moderno, transmitindo a tristeza do personagem Kamen Rider, que se encontra no centro da conspiração e se transformou em um ser sobre-humano contra sua vontade.


Shin Kamen Rider: Josho (em tradução livre: Verdadeiro Kamen Rider: Prólogo) estreou diretamente em vídeo (o formato conhecido como V-Cinema) em 20 de Janeiro de 1992. Em seu enredo, uma série de assassinatos misteriosos estão ocorrendo em Tóquio por uma criatura monstruosa com aparência insetóide. Paralelamente a isso, o jovem Shin Kazamatsuri é cobaia em um experimento misterioso, o qual ele achava se tratar do desenvolvimento para curar doenças, no qual seu pai e sua namorada estão envolvidos. No entanto, o jovem passa a desconfiar que, de alguma forma, ele pode estar envolvido nos soturnos incidentes, então, ele se vê no meio de uma grande conspiração macabra envolvendo mutações de genes humanos e ambições malignas.  

Shotaro Ishinomori e os protagonistas: Hiromi Nomura e Shin Ishikawa

O filme teve direção de 
Makoto Tsuji, com coordenação de efeitos especais de Osamu Kaneda e Kazuyoshi Yamada (ambos, posteriormente, trabalhariam em séries Rider da era Heisei). Foi o primeiro trabalho de Kamen Rider com o envolvimento de Shinichiro Shirakura (um dos responsáveis pela franquia na atualidade). Também, na produção, estão os veteranos Katsuji Murakami (da Bandai) e Susumu Yoshikawa (da Toei).  Mesmo que muito da conceituação original da ideia tenha sido removida e retrabalhada, o produto final ainda tinha um teor sem precedentes para o que vinha sendo apresentado até a época: violência explicita, ambientação soturna, uma transformação grotesca e cenas de nudez e erotismo. Como pode ser visto no título "JOSHO" (prólogo), inicialmente a produção visava ter de três a cinco continuações, porém uma sequência nunca foi produzida, mantendo-se apenas em um único filme. 

Shin Kamen Rider está disponível oficialmente no canal Toei Tokusatsu World com legendas em português:


Kamen Rider em anime:


 

A produção seguinte, foi Kamen Rider SD: Kaiki!? Kumo Otoko (em tradução livre: Kamen Rider SD: Misterioso!? Homem-Aranha) uma animação lançada em 22 de Março de 1993, baseado na linha jogos, mangás e produtos "Kamen Rider SD" (super deformed), que apresentam versões "chibi" dos Kamen Riders.  Esse OVA, apresenta uma história cômica, onde os personagens enfrentam diversas confusões enquanto lutam com a GranShocker. Uma curiosidade interessante é que Akiji Kobayashi dubla seu personagem Tobei Tachibana (o lendário mentor dos Riders anos 70) e Jo Onodera (filho de Shotaro Ishinomori) dubla Black RX.  

As comemorações de 20 anos continuam:


Após Shin, a Bandai optou por um modelo mais recorrente de produção, retornando às configurações básicas da franquia e seu publico alvo infantil, para favorecer suas vendas. A empreitada seguinte começou a ser idealizada ainda em 1992, dentro do contexto do aniversário de 20 anos da marca Kamen Rider. A ideia dos V-Cinema, ou seja, produções originais lançadas diretamente para Home Video estavam se mostrando bem-sucedidas para a Toei, no entanto, inicialmente esse novo filme seria algo lançado sozinho para exibição cinematográfica, porém, os executivos da Toei e da Bandai estavam receosos quanto a possíveis riscos de bilheteria, então, decidiram exibi-lo como parte da Toei Super Hero Fair '93.  

Em 17 de Abril de 1993, Kamen Rider ZO estreou no festival Toei Super Hero Fair, juntamente com os filmes de Janperson e Dairanger. Para o filme, Keita Amemiya (conhecido hoje pela franquia GARO) ficou  encarregado da direção, inclusive, inicialmente ele pretendia fazer uma história envolvendo Takeshi Hongo (Kamen Rider Ichigo) ao invés de um novo personagem, porém a ideia acabou não se concretizando. ZO possuí um conceito simplista, dado as circunstâncias, o herói enfrenta formas de vida criadas por um cientista. Seu visual mais orgânico também não possuí cintos ou botas e seus ataques são baseados em chutes e socos, sem armas ou apetrechos. Os monstros apresentados como Doras, Kumo Onna e Komori Otoko tem visuais mais agressivos, ao melhor estilo Amemiya. 



Na história escrita por Noboru Sugimura, o jovem Masaru Aso (interpretado por Kou Domon que faria Blue Swat posteriorente) é usado de cobaia pelo cientista Dr. Mochizuki em sua obsessão por criar uma forma de vida perfeita, ele acaba tendo seu corpo remodelado devido a uma alteração genética. Aso se torna Kamen Rider ZO, que tem como missão  proteger o filho do cientista e derrotar a forma de vida conhecida como NEO-Organismo. 

Uma curiosidade é que o ator Kou Domon disse que se sentiu realizado em interpretar um Rider, já que era um fã da série desde criança, ele também fez sugestões para o roteiro, como a cena em que ele entrega sua jaqueta para Hiroshi no final. Keita Amemiya e Shotaro Ishinomori se sentiram totalmente satisfeitos com o trabalho dele. 

O mangá de ZO:


Além do filme, ZO ganhou um mangá feito por Shotaro Ishinomori e Kazuhiko Shimamoto (que também foi responsável pelo mangá reboot de Skullman). Ele foi publicado em Maio de 1993 e,embora a premissa inicial da história seja basicamente a mesma, contém algumas diferenças do filme, como por exemplo Doras poder falar, Masaru inicialmente se recusar a salvar Hiroshi, Doras e ZO possuem mais batalhas que no filme, a personagem  Reiko (no filme interpretada por Naomi Morinaga) tem maior destaque, também há uma explicação para os golpes Rider Kick e Rider Punch, dentre outras diferenças. Além da história principal, o mangá contém um capítulo extra do mangá de Kamen Rider Black (de 1987), onde são criados os "Black Dummies", cópias do Rider Black para assassina-lo. 

Um gigante de luz e um ciborgue: O encontro!


 Ultraman da Tsuburaya Productions, criação do saudoso Eiji Tsuburaya, é certamente um dos maiores e mais notórios heróis não só apenas da cultura Japonesa, mas como de todo o mundo. Na primeira metade da década de 90, assim como Kamen Rider da Toei Company, a franquia Ultra também estava em um hiato televisivo. Em Julho de 1993, o encontro entre as duas maiores franquias de heróis ocorreu: Ultraman versus Kamen Rider, um especial de TV que apresenta uma retrospectiva de ambas as franquias, além de entrevistas com membros do elenco das séries, além de uma pequena história onde o gigante de luz e o ciborgue gafanhoto se unem para enfrentar monstros e salvar o dia. Esse também foi o primeiro crossover entre as produtoras Toei e Tsuburaya, que se repetiu posteriormente na série Shushutorian (também de Ishinomori), onde no episódio 40, o Ultraman original aparece. A popularidade desse trabalho teria um grande impacto na configuração do filme seguinte. 

Shotaro Ishinomori (criador de Kamen Rider) e Noburo Tsuburaya (filho de Eiji Tsuburaya).


Rider Jumbo!


Com uma sequência para ZO inviabilizada, Kamen Rider J estreou em 16 de Abril de 1994, também como parte do Toei Super Hero Fair '94, ao lado dos filmes de Kakuranger e Blue Swat. Para esse filme os moldes básicos do filme anterior foram mantidos, o produtor Susumu Yoshikawa trouxe de volta para a franquia o icônico roteirista Shozo Uehara (responsável pelos episódios iniciais de Kamen Rider Black ), em sua ideia original de roteiro intitulada inicialmente como "Kamen Rider Chou" (Kamen Rider Super) trataria a ideia inicial de um guerreiro alienígena que surgiria para combater uma invasão, mas esse conceito foi descartado pelos produtores e foi fixado que o Kamen Rider tem que ser um humano (uma exigência do próprio Ishinomori). Então, trouxeram a tona a ideia de questões ecológicas e de espíritos que protegem a terra, mesclando também com a ideia de invasores alienígenas para o grupo de vilões (Fog Mother e seus três monstros), definindo as características base para esse filme. Os produtores também acharam que seria interessante, para o clímax final, o Rider ter o poder de se tornar gigante, isso se mostrou popular em "Ultraman vs. Kamen Rider" do ano anterior, no entanto, Shotaro Ishinomori se mostrou relutante em aceitar esse elemento em seu personagem, mas acabou sendo convencido pelos produtores com a exigência de que esse poder seria apenas temporário e seria como "um milagre concedido pela terra". 



Dirigido novamente por Keita Amemiya, o filme apresenta o ator Yuta Mochizuki (que trabalhou anteriormente em Jetman e Zyuranger) como o protagonista Koji Segawa, um fotógrafo ambientalista que após ser morto polos monstros de Fog, uma entidade alienígena, é remodelado em Kamen Rider J pelos espíritos da terra para enfrentar a ameaça e resgatar a pequena Kanna.  



Uma curiosidade é que Toshihide Wakamatsu (o Black Condor de Jetman) chegou a ser cogitado para o papel, mas na época, ele já estava comprometido com outros trabalhos e este acabou ficando para Yuta Mochizuki que na época pertencia a JAC (Japan Action Club). A atriz Yuka Nomura, que interpretou a pequena Kanna, relembrou que trabalhar em Kamen Rider foi "emocionante e muito empolgante". Além do filme, J também ganhou uma novel escrita por Shozo Uehara e Shotaro Ishinomori, onde é abordado mais sobre as origens de Fog.  

A última produção: 



Kamen Rider World
é um curto especial lançado em 6 Agosto de 1994 em festivais de filmes da Toei, conjuntamente com o especial Super Sentai World e foi a última produção de Kamen Rider nos anos 90 e também, a última lançada com Ishinomori ainda vivo. A história desse especial é simples: O vilão Shadow Moon (de Black e RX) ressuscita na intenção de governar o mundo, e trás de volta a vida alguns monstros que no passado foram derrotados por Kamen Riders (temos monstros de Black, Black RX, Shin e J). Então, os dois Riders da vez, ZO e J se unem para combater a ameaça. O especial é rápido, mas vale a pena conferir, pois é interessante como a Toei tinha a intenção de fazer de ambos, os novos "Double Riders" (que é a alcunha utilizada para a dupla Ichigo e Nigo). Yuta Mochizuki (Rider J), Kou Domon (Rider ZO) e Masaki Terasoma (Shadow Moon) reprisam seus papeís apenas em voz. 

A morte de Ishinomori: 



A década de 90 trouxe um grande baque, não só para a franquia, mas também para todo o mundo do Tokusatsu e dos mangás: A morte de seu criador Shotaro Ishinomori. O autor faleceu no dia 28 de Janeiro de 1998, aos 60 anos de idade, em decorrência de uma insuficiência cardíaca, ele lutava contra um linfoma desde 1992. Embora todas as obras aqui mencionadas, tecnicamente, pertençam ao período regencial Heisei no Japão (por calendário, essa era se iniciou em 1989) são acrescentadas pela Toei como Showa Riders, por fins de estética e para englobar em uma coisa só todos os Riders criados no período em que Ishinomori ainda estava vivo. Com a morte do criador, a Toei decidiu trazer a franquia de volta do hiato televisivo que estava desde 1989 (com término de Black RX), criando um "novo herói, uma nova lenda" em sua homenagem. Mas isso aí é papo para outro texto. 

Keep Rider Kickin' ! 

Por: Thiago "AP"  


 

Comentários

VISÃO TOKUSATSU PÁGINA

Postagens mais visitadas